Projeto Biografias - Carl Sagan, o Cosmopolita

     Carl Edward Sagan foi um físico, biólogo (pioneiro em exobiologia), professor, astrônomo, astrofísico, escritor e um dos maiores divulgadores científicos do século XX. Carl foi, desde criança, encantado pelas estrelas e fez delas não apenas o seu trabalho, mas também uma inspiração para sua própria vida e para milhares de outras pessoas que o admiram e ao seu trabalho. Foi também coautor, coprodutor e apresentador da série “Cosmos: Uma Viagem Pessoal”.


Carl Sagan nasceu no Brooklin, Nova Iorque, em um bairro tradicionalmente judeu em 9 de novembro de 1934. Filho de judeus refugiados da atual Ucrânia (na época a Ucrânia era uma das repúblicas constituintes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS) e Áustria. Seu pai, Samuel Sagan nasceu em uma região conhecida como “O assentamento pálido”, que era a única região da Rússia Imperial que aceitava imigrantes judeus como moradores permanentes. Sua mãe Rachel Sagan foi para os EUA do antigo Império Austro-húngaro, fugindo após seu pai matar um antissemita. Samuel Sagan trabalhava como operário em uma fábrica têxtil de sua época, mas também exerceu alguns outros trabalhos como porteiro de cinema e sua mãe era dona de casa. Carl é o mais velho de dois filhos, sua irmã se chama Carol Sagan e é sete anos mais nova do que Carl. 

Carl concluiu o ensino médio em Nova Jersey em 1951 e no mesmo ano ingressou na Universidade de Chicago, quando se juntou ao Ryerson Astronomical Society. Em 1955 concluiu sua licenciatura em física, no ano posterior concluiu sua pós-graduação com a dissertação “Estudos Físicos dos Planetas” e em 1960 concluiu seu doutorado em Astronomia e Astrofísica ainda na faculdade de Chicago. Enquanto fazia sua pós-graduação conheceu sua primeira mulher, a bióloga Lynn Margulis com quem se casou em 1957 e se divorciou em 1965.

Depois de concluir essa etapa de sua vida ele trabalhou no Observatório Astrofísico Smithsonian em Cambridge e simultaneamente na universidade de Havard, onde não se encaixou muito, pois os cientistas de lá eram muito tradicionais e as ideias de Carl os incomodava. Em 1968 foi para a universidade Cornell onde logo se tornou diretor do Laboratório de estudos planetários.

 Por ser encantado com a biologia, em descobrir como vida surgiu e a história da vida na Terra, Sagan doutorou-se também em astrobiologia. Ele acreditava que a vida acontece por toda parte do cosmos, as moléculas da vida são feitas prontamente e remontam-se espontaneamente e poderiam, assim como nós, evoluir até um estágio de consciência, mas também se destruir após alcançar uma civilização técnica.

Carl foi desde a década de 1950 vinculado ao programa espacial da NASA, onde contribuiu imensamente com o enriquecimento de conhecimento sobre o espaço e também sobre nós mesmos. No ano de 1969 assessorou os astronautas da missão Apollo 11 e posteriormente participou do Projeto Pioneer, nas missões Pioneer 10 e Pioneer 11, que mandaram sondas em missão ao sistema solar exterior, nos anos de 1972 e 1973 respectivamente.

Nos anos finais da década de 1970, foram lançadas, com um intervalo de 6 meses, as sondas espaciais nomeadas Voyager 1 e Voyager 2 do programa espacial da Nasa em que Sagan participava. As sondas foram originadas nas Mariner da expedição que pesquisou sobre os planetas rochosos do sistema solar. As Voyager, inicialmente tinham o intuito de fazer um mapeamento do sistema solar e explorar os outros planetas próximos, mas acabou fazendo muito mais que isso. A Voyager conta com um disco de ouro, inserido em sua carcaça que contém sons e músicas da terra, além de saudações em todas as línguas humanas e também um mapa para encontrar o sol, se guiando por pulsares que são estrelas que piscam em um pulso constante, também conhecidas como estrelas de nêutrons. A iniciativa tem como intuito de que qualquer criatura inteligente e consciente que esteja por aí no universo possa nos encontrar e dizer “Olá”.

As sondas concluíram seu mapeamento e depois se despediram em uma eterna viagem pela galáxia, indo onde nenhuma nave humana havia ido anteriormente. Antes de de sair do sistema solar, logo após passar por Netuno o Astrônomo pediu para que a câmera da nave focasse a Terra uma última vez, para uma última foto. E lembrou que todo homem e mulher de quem ouvimos falar, todo tirano e todo revolucionário, todo império e todas as culturas que conhecemos vivem, viveram e viverão em um pequeno ponto de luz fraca.

Disco de ouro Voyager 1
"Pálido Ponto Azul"

No final dos anos 70 Sagan, sua esposa Ann Druyan e Steven Soter escreveram a série “Cosmos: Uma Viagem Pessoal”, que tinha como intuito levar de forma simples e clara a visão da ciência sobre o mundo. 

        Cosmos levou a público informações sobre diversas expedições espaciais feitas durante as décadas de 1960 e 1970, como as Voyagers 1 e 2, o programa Viking 1 e Viking 2 da Nasa, o programa Mariner, entre outros vários. O programa também mostrou nossa insignificância perante todo o universo, mostrando que a Terra, quase do fim do sistema solar, é apenas um pálido ponto azul suspenso em um raio de sol. O programa televisivo assim como Carl em boa parte de sua vida, alerta sobre os perigos do efeito estufa e do aquecimento global provocado pela poluição desenfreada, além de lembrar do risco da extinção em massa. O programa mostra também o quão rica e diversa são as culturas humanas como um todo, mas também em suas particularidades. Conta histórias de homens e mulheres que viveram nesta terra e fizeram a diferença. Em resumo, Cosmos é o maior empreendimento científico que tem o intuito de alcançar pessoas comuns, que não entendem a linguagem científica.

Sagan com o modelo da sonda Viking enviada a Marte


Sagan sempre foi bastante preocupado com as questões ambientais. Ele foi o pioneiro no estudo do CO2  e provou, usando regressão linear, que as taxas do gás só aumentam e que o excesso desse gás na atmosfera não é de origem natural e que isso tem causado um grande impacto no clima, na vegetação e também na vida animal, além de prever que isso afetaria a vida humana em um futuro não tão distante. Ele alertou também sobre a crueldade a qual eram submetidas as baleias, e mostrou o quão valiosas podem ser essas espécies.

Episódio da série Cosmos


A vida em condições humanas e igualitárias era um sonho de Sagan. Ele acreditava que se todos se unissem, seria possível erradicar a fome do mundo, realizar expedições espaciais que trariam resultados substanciais para todo o desenvolvimento humano. Carl sempre acreditou que o conhecimento deve ser compartilhado e tido como um bem em comum entre todos os seres humanos, afinal tudo o que foi descoberto ficou como uma dádiva para as gerações futuras e assim será para o que for descoberto e as próximas gerações. Esse é o legado daqueles que buscam incessantemente a verdade através de caminhos metodológicos e sistemáticos. De certa forma eles ficam imortalizados.

Capa do Livro "Contato"

Carl Edward Sagan, se destacou em várias das áreas em que se dispôs a desenvolver, sendo reconhecido na maioria delas. Escreveu diversos livros, dentre eles tem romances de ficção, livros científicos, artigos e o programa Cosmos, como mencionado anteriormente. Ele foi premiado diversas vezes por em áreas distintas. Sagan foi premiado com uma medalha de serviço destaque da Nasa, Medalha da NASA por Excepcionais Feitos Científicos, ganhou o prêmio Pulitzer: Não-ficção, também de Humanista do Ano de 1981, concedido pela Associação Humanista Americana, Prêmio Peabody de 1980 pela série Cosmos, Prêmio Helen Caldicott, concedido pela Ação Feminina para o Desarmamento Nuclear, Medalha Oersted de 1990 da Associação Americana de Professores de Física, Prêmio Masursky de 1991, da Sociedade Astronômica Norte-Americana etc.


O astrônomo tinha uma doença rara na medula óssea, conhecida como mielodisplasia. É um tipo de câncer que ataca a medula que produz sangue, o que ocasiona em diversas deficiências ao corpo humano, como anemia, diminuição da imunidade (leucopenia) e dificuldades de coagulação do sangue (plaquetopenia). Essa enfermidade terminou por ocasionar em sua morte, no ano de 1996.

Assim como todos aqueles que foram mencionados na série Cosmos, Sagan ficou imortalizado como o maior divulgador científico e um homem de vários feitos. Sagan deixou para as próximas gerações o legado de que cada um de nós pode fazer a diferença, como outros fizeram no passado. A série também ficou imortalizada e ganhou uma nova versão em 2014, apresentada por Neil Degrasse Tyson e ganhou uma série de novos recursos visuais e sonoros que repaginaram e atualizaram o conteúdo tratado. Neste ano de 2020 a série ganha sua segunda temporada, produzida pela National Geografic.

Em homenagem ao homem exemplar que Sagan foi, hoje existem premiações que carregam seu nome, como O Prêmio Comemorativo Carl Sagan, A Medalha Carl Sagan e o O Prêmio Carl Sagan para a Compreensão Pública da Ciência.

De sua época para o infinito, Sagan deixou sua mensagem de que a existência humana individual é breve e que não faz sentido lutar por poder nessa breve estrofe da poesia cósmica. Há muito o que se fazer para que um dia os seres humanos sejam aqueles de quem se possa ter orgulho. “Somos feitos de poeira das estrelas e somos um caminho para o Cosmos conhecer a si mesmo.” -Carl Edward Sagan.





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